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Por Felipe Gutierrez

10/12/2023 00h00 Atualizado 10/12/2023

Javier Milei, que foi eleito presidente da Argentina �

: Reuters

O presidente eleito Javier Milei toma posse neste domingo (3) na Argentina para um mandato de quatro anos, e uma pergunta se imp�e: qual � o Milei que ir� governar?

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O "ut�pico", influencer ultraliberal e libert�rio que ganhou notoriedade com um discurso antipol�tica, ou uma vers�o mais pragm�tica, que far� concess�es e negociar� com pessoas de outras correntes ideol�gicas para aprovar reformas no Congresso?

POSSE DE MILEI: veja quem ir� comparecer?

Os sinais s�o amb�guos: enquanto o Milei da campanha se apresentava como um pol�tico da direita n�o tradicional que vociferava contra a "casta" pol�tica, o Milei eleito tem se aproximado de nomes do establishment e montou uma equipe composta tanto por egressos do governo de Maur�cio Macri, de direita, como de Alberto Fern�ndez, de esquerda.

�N�o sabemos como ser� ele no governo. No per�odo do segundo turno houve uma transi��o muito relevante de estilo e de agenda�, diz Federico Zapata, diretor da consultoria argentina Escenarios.

Milei, afirma o analista, montou um governo mais plural do que se imaginava: al�m de pol�ticos do partido de Macri, o Proposta Republicana, h� alguns peronistas n�o-kirchneristas, caso de Daniel Scioli, o embaixador da Argentina em Bras�lia, que permanecer� no cargo.

Zapata diz que os eleitores de Milei n�o o abandonar�o por essas nomea��es, nem mesmo se o novo presidente deixar de lado algumas das promessas de campanha: entre elas est� dolarizar a economia argentina e fechar o Banco Central.

"Eles n�o v�o se sentir tra�dos; eles t�m uma rela��o afetiva muito forte com Milei, ele os fidelizou e a consegue fazer essas mudan�as de rumo se for necess�rio", diz o consultor.

Diferen�as em rela��o a Bolsonaro

Autor do livro "A nova direita argentina e a democracia sem pol�tica", o professor Sergio Morresi, da Universidad Nacional de General Sarmiento, afirma que Milei tem se moderado em rela��o ao discurso de campanha, embora ainda mantenha a raiz radical.

Morresi afirma que a direita tradicional e a direita antissistema na Argentina t�m se aproximado. A tend�ncia do movimento, por�m, � em dire��o ao extremo, n�o ao centro.

Em rela��o ao governo do presidente Jair Bolsonaro no Brasil, ele v� contextos diferentes.

Aqui, havia expectativa de que o presidente se moderasse ao longo do mandato, o que n�o ocorreu. Bolsonaro, al�m disso, tinha apoio consistente nas For�as Armadas e conquistou parte do empresariado. Na Argentina, por outro lado, as For�as Armadas n�o t�m o poder e a influ�ncia como no Brasil, e Milei n�o atraiu tantos empres�rios como Bolsonaro.

Apoio no Legislativo

O partido de Milei n�o tem maioria na C�mara dos Deputados nem no Senado, e vai precisar do apoio de outros partidos.

Isso � semelhante ao que acontece no Brasil, mas a organiza��o pol�tica da Argentina tem diferen�as marcantes em compara��o com a nossa.

A principal delas � que, na Argentina, a elei��o para o Legislativo � em lista fechada �ou seja, os dirigentes de partido controlam quem estar� no topo da lista e no fim da lista. Na pr�tica, os �chefes� de partido das prov�ncias t�m mais poder de barganha com o Executivo nacional.

"O presidente � obrigado a barganhar com governadores, e � isso que o Milei est� fazendo. Ele tem que negociar com as lideran�as do peronismo n�o kirchenerista e da direita tradicional, mas tamb�m vai precisar negociar com governadores�, diz Morresi.

Segundo o pesquisador, a estrat�gia de Milei tem sido �fechar a porta na cara� dos governadores para depois negociar uma abertura. Ou seja, ele afirmou que n�o vai haver verba federal para obras em prov�ncias para depois negociar isso em troca de apoio parlamentar.

O professor afirma que, entre os apoiadores de Milei. h� pessoas que acreditam que a vit�ria no segundo turno foi t�o significativa que os legisladores v�o ter receio de se opor �s pol�ticas do novo presidente e v�o se alinhar s� por essa raz�o. Morresi v� essa possibilidade como pouco prov�vel.

A Liberdade Avan�a (LLA), partido de Milei, tem 40 das 257 cadeiras da C�mara dos Deputados e 7 dos 72 assentos do Senado.O peronismo tem 105 deputados e 33 senadores,Entre os prov�veis aliados que Milei na C�mara est� o partido do ex-presidente Mauricio Macri, com 40 cadeiras, e, talvez, a Uni�o C�vica Radical, com 35.

E aquelas propostas?

Para os analistas pol�ticos, algumas reformas econ�micas na Argentina, como da moeda, seriam feitas por quem quer que fosse o presidente.

"Parece que a sociedade vai dar um per�odo de tempo para que ele consiga fazer reformas. A quest�o � se ele vai ter maioria legislativa e se essas reformas v�o surtir efeitos que permitam que ele consolide poder pol�tico", afirma Zapata.

Antes de ser um pol�tico, quando era influencer ultraliberal, Milei falava em dolariza��o e fechamento do Banco Central. Morrei coloca isso em contexto.

A dolariza��o

O discurso mais tradicional de Milei sobre o d�lar n�o � exatamente impor uma convers�o entre peso e d�lar ou passar a usar o d�lar como moeda corrente no pa�s, como �, por exemplo, no Equador. A ideia � liberar transa��es com o d�lar --hoje h� diversas proibi��es legais, que os argentinos chamam de "cepo", para que se use o d�lar como refer�ncia de valor. � proibido, por exemplo, fazer contratos em d�lar.

A ideia de Milei � tirar todas essas proibi��es. A l�gica � que as pessoas v�o passar a pensar e dar pre�os �s coisas em d�lares e, na pr�tica, a economia vai caminhar para uma dolariza��o.

Javier Milei anuncia primeiros nomes do governo e refor�a desejo por privatiza��es

O fechamento do Banco Central

Segundo o pesquisador Sergio Morresi, Milei realmente acredita mesmo na ideia de fechar o Banco Central. "Ele diz isso nos livros e artigos antigos". Mas tamb�m h� uma sutileza. A ideia �, acima de tudo, acabar com as fun��es de regulador de mercado financeiro que os Bancos Centrais t�m. Grosso modo, Milei quer um mundo financeiro mais livre, com circula��o de diferentes moedas e menos interven��o no sistema financeiro.

"Quando ele falava isso ainda no mundo ut�pico, esse seria um ideal. Desde que ele virou pol�tico, ele continua falando isso, mas ora vai para um lado ora para outro", afirma o pesquisador.

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